sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A criança e o desenho


A criança desenha para se divertir. Desenhar é para ela um jogo que leva muito a sério. Para a criança, os seus desenhos estão sempre bem feitos e a prova disso é que os dedica a quem gosta. É a sua forma de escrever a realidade. Ao desenhar a criança está a contar a sua história, os seus pensamentos, as suas fantasias, os seus medos, alegrias e tristezas. Cada desenho tem uma história, um significado pessoal. Através do desenho a criança deixa transparecer o seu mundo interior.

Segundo Luquet: “ o desenho é uma íntima ligação do psíquico e do moral. A intenção de desenhar tal objecto não é senão o prolongamento e a manifestação da sua representação mental; o objecto representado é o que, neste momento, ocupará no espírito do desenhador um lugar exclusivo ou preponderante.”
O desenho pode também mostra-nos o processo de desenvolvimento, de crescimento da criança.

Merleau-Ponty (1990) apresenta-nos os vários estágios do desenho infantil:

«Realismo fortuito – a criança procura representar o objeto como uma totalidade.
Subdivide-se em:
a) Desenho involuntário – a criança desenha só para fazer linhas, sendo que, nesse estágio, repete o movimento pelo simples prazer e
b) Desenho voluntário –a criança percebe certa semelhança entre os traços e o objecto real. Ela enuncia a interpretação que o desenho lhe dá. Mais tarde, diz o que pretende desenhar, mas o resultado a faz interpretar seu desenho de forma diferente. Em outra situação, o desenho, afinal, corresponde com a sua interpretação inicial. Então, percebe que pode representar, através do desenho, tudo o que deseja.
Incapacidade sintética – a criança desenha cada objecto de forma diferente, considerando seu ponto de vista para diferenciá-los. Pode desenhar uma figura humana, mas desenhar os olhos, a boca e os cabelos ao lado do corpo como se não fizessem parte dele.
Realismo intelectual – a criança procura desenhar não só o que pode ver no objecto, mas todas as suas fases.Desenha de acordo com sua noção momentânea dos objectos.
Realismo visual – a criança representa apenas os aspectos visíveis do objecto. Há um aprimoramento de sistema de desenho construído no estágio anterior.»*

in, "A criança e o desenho Infantil - A sensibilidade do educador mediante uma produção artística infantil" de Ema Roseli e Lygia Helena Roussenq Neves, Revista de Divulgação tecnico-cient´fica do ICPG, 2004

Alguns exemplos:

1 comentário:

Ádila Faria disse...

Olá amiguinhos mais novinhos de Ramalde,

Querem saber um segredo? Para mim os desenhos mais bonitos nesta fase da infância, são precisamente estes. Com a vossa idade os desenhos têm um encanto especial!
Ana, deixo-te com este poema que me ocorreu após a leitura do teu post! Obrigada!

Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros in "O Regresso ou o Homem Sentado - III parte"


Para todos vocês, Um Santo e Feliz Natal. Até breve!
dajaneladomeujardim